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Bala na Cesta

Sub-18 não jogará o Mundial em 2015 - até quando teremos vexames assim?

Fábio Balassiano

23/06/2014 00h55

foot1Terminou ontem em Colorado Springs (EUA) a Copa América Sub-18 para a seleção brasileira masculina. O time do técnico Pablo Costa perdeu da República Dominicana por 72-69 e se despediu da competição com três jogos, três derrotas e saldo negativo de 50 pontos. De quebra, o país não vai participar do Mundial Sub-19 em 2015 (repetindo o "feito" de 2009, quando tampouco jogou).

Vi os três jogos pelo site da FIBA Américas, mas não há análise tática ou técnica que possa ser feita quando um time perde todas as suas partidas (Canadá por 42 pontos, Porto Rico por cinco e República Dominicana por três) e tem mais desperdícios de bola (66) do que bolas de dois pontos convertidas (52). Esta mesma equipe foi disputar a Euroliga Junior e só levou surra (veja mais aqui). Seria leviano e injusto de minha parte, porém, apontar o dedo apenas para os treinadores e atletas. É preciso ampliar o olhar.

nunes2O problema é maior. Vem de cima. E atende por uma palavrinha mágica chamada 'gestão'. Não adianta, estimado leitor. Não adianta, estimada leitora. Vamos ficar aqui discutindo inúmeros problemas, inúmeras questões, inúmeras ideias, inúmeras sugestões, mas o basquete brasileiro não sairá de seu estado catatônico enquanto não mudar a sua forma de ser gerenciado.

É um acinte, um disparate, uma seleção Sub-18, a última antes da categoria adulta, viajar para uma competição internacional com 12 dias de treino nas costas. É um absurdo, é um atestado concreto de incompetência. É uma prova contumaz contra a falta de competência dos dirigentes que deveria ser muito cobrada por quem de direito (Ministério do Esporte e COB), mas sabemos como as coisas funcionam – ou não funcionam, né…

brasil2Aqui uma questão importante. É óbvio que tempo de treinamento não é tudo. Mas é no período exíguo a que estes meninos foram submetidos antes de uma etapa tão importante de suas carreiras e na absurda falta de fundamentos apresentada na competição (algo que só pode ser corrigido com repetição…) que detectamos quão bizarro é o estado das coisas na Confederação Brasileira. Confederação Brasileira que, através de seus ilustres dirigentes, acha realmente que está ajudando a evoluir o basquete deste país (sei…). Confederação que não é cobrada. Confederação que, não duvidem, deita a cabeça em seu travesseiro de linho egípcio de não sei quantos fios e dorme muito feliz com o que supostamente tem sido feito.

Acho, também, que o sistema de treinamento dos clubes deve ser repensado, discutido, minimamente dialogado para que se chegue a uma conclusão se o que se faz aqui é bom ou defasado desde as categorias de base. Mas, por ora, a luz deve ser lançada mesmo na Confederação Brasileira, que deve (ou deveria) organizar e fomentar o basquete no país. E nem isso ela tem conseguido, obviamente. Seria ela, inclusive, que deveria ter uma área dentro de sua inchada estrutura para verificar a quantas anda o ensino da modalidade no país. Mas acho que isso, até pelo que é exposto neste espaço há anos, seria pedir demais…

bra1Como ficam agora os meninos que ainda insistem em jogar basquete no país? O que será desta geração Sub-18 que não terá nenhuma competição ou amistoso internacional para fazer até a categoria adulta? A CBB está pronta para queimar mais uma fornada de TALENTOSOS jovens por conta de sua falta de gestão ou tem algum plano para ainda aproveitar esses TALENTOSOS garotos? O que será da vida e da carreira dos 12 meninos que foram a Colorado Springs e voltam de lá com três derrotas nas costas? E os outros, inúmeros, que ainda praticam a modalidade por aqui? E praticam por amor, obviamente, porque devem ser suficientemente inteligentes para saber que desta Confederação não vai sair nada de útil.

vanderleie2O ideal, depois de um vexame como este (mais um, né…) seria que a Confederação Brasileira sentasse, analisasse e corrigisse os (muitos) problemas que houve. É assim em qualquer empresa. Erros acontecem mesmo. Faz parte de todo processo que busca a evolução, o desenvolvimento, a alta performance. A chave do sucesso não é só errar pouco, mas sim ser rápido e eficiente na correção dos equívocos – sejam eles na preparação, na execução, na concepção do produto (basquete) ou no planejamento como um todo. É só olhar, ver "onde" está o problema e tratá-lo. Não é muito complexo no mundo empresarial do qual eu faço parte, do qual você faz parte. Não é tão complexo assim no mundo esportivo. E os dirigentes da CBB deveriam saber disso.

Mas como sabemos que na entidade máxima NADA vai acontecer continuaremos na mesma. E nada vai acontecer porque os dirigentes da entidade máxima acham que está tudo bem, que está tudo ótimo, que as derrotas vieram "nos detalhes", que o "time estava evoluindo", que os "adversários tiveram sorte". Ou melhor. Vai acontecer, sim. O Ministério do Esporte, através da pasta de Alto Rendimento, vai despejar uma bolada na Confederação Brasileira que não consegue estruturar a modalidade há 15, 20 anos. A questão central é: vai despejar esta bolada toda na mão de Nunes e companhia mesmo? O meu dinheiro, o seu dinheiro, vai parar na conta da CBB para que ELA invista no basquete da maneira medíocre que ela vem fazendo há 15, 20 anos? É sério isso? Chega a ser irônico, ou trágico, que em um mundo cada vez mais profissional a Confederação consiga ser cada vez mais… amadora, inflada com recursos públicos e com dívidas cada vez mais crescentes.

cbb3Infelizmente é nesta toada que caminha o basquete brasileiro. Milionário, mal administrado, mal planejado, com federações fisiológicas ao extremo, com uma Associação de Atletas que não traz absolutamente nada de novo ou relevante, com esferas que deveriam cobrar/fiscalizar/estimular totalmente caladas e com os atletas da base sendo as maiores vítimas dos desmandos de quem lidera a modalidade. O sistema é TODO corroído, conivente, deteriorado mesmo. Não há uma voz dissonante, já repararam? Será que está tudo bem mesmo? Será que o basquete brasileiro não precisa, mesmo, mudar? Será que não é hora de realmente fazer algo diferente?

O cenário é o mesmo há 15, 20 anos. Não mudou até hoje por uma razão bem simples: é a mesma "turminha" que comanda o esporte que a gente tanto ama há 15, 20 anos. E repetindo a pergunta de sempre: se faz-se sempre igual, como esperar resultados diferentes?

grego1Estas pessoas que estão no pelotão de frente do basquete do país podem até ser bem intencionadas, mas de gestão, administração e organização não trazem absolutamente nada de útil. Como eu digo há algum tempo: o problema do basquete brasileiro é que o poço é sempre mais fundo do que a gente imagina.

Não subestimemos a falta de qualidade desta "turminha", pois as competições internacionais continuam e novos tombos certamente (e infelizmente) virão. Pela proa está o Mundial Feminino Sub-17. E as meninas viajarão para a República Tcheca tendo treinado por apenas 14 dias. Quais as chances de essas meninas conseguirem uma colocação boa? Por mais que a gente torça (e eu vou torcer pelo sucesso delas), a preparação naturalmente não foi bem feita, não foi duradoura, não foi recheada de amistosos como deve ser. A lamentar, apenas, que quase ninguém da imprensa esteja olhando para o trágico momento do basquete – momento de 15, 20 anos, diga-se de passagem…

nunes1Um aviso e uma perguntinha para fechar. O aviso: Carlos Nunes continuará como mandatário na Confederação Brasileira até 2017. A pergunta: aos 21 presidentes de Federação que reelegeram Nunes para o quadriênio 2013/2017, estão felizes com os rumos do basquete brasileiro?

A marcha fúnebre nem é a música mais apropriada para fechar este texto. Simplesmente não é porque ninguém agüentaria ouvir a mesma, e triste, canção pelos 15 anos que o basquete brasileiro tem sido vitimado por gestões tão rasas, tacanhas, recheadas de pessoas sem a menor experiência administrativa, corporativa, nada. São pessoas que, desculpe dizer isso, não acrescentam em nada ao esporte.

Fiquemos com o silêncio então. É assim que os dirigentes estão acostumados a (não) responder nos casos (freqüentes) de insucessos recentes, não é mesmo?

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